FW: CORDEL - NO TEMPO DA MINHA
INFÂNCIA - jv
Sidney Araujo
08/09/2015
Date: Mon, 7 Sep 2015 19:38:09 -0300
Subject: Fwd: FW: CORDEL - NO
TEMPO DA MINHA INFÂNCIA - jv
From: carlosantonio
CORDEL - NO TEMPO DA MINHA
INFÂNCIA - jv
Assunto: ENC: CORDEL - NO TEMPO
DA MINHA INFÂNCIA - jv
No tempo da
minha nossa infância
(Ismael
Gaião)
No tempo da
minha infância
Nossa vida era
normal
Nunca me foi
proibido
Comer muito
açúcar ou sal
Hoje tudo é
diferente
Sempre alguém
ensina a gente
Que comer tudo
faz mal
Bebi leite ao
natural
Da minha vaca
Quitéria
E nunca fiquei
de cama
Com uma doença
séria
As crianças de
hoje em dia
Não bebem como
eu bebia
Pra não pegar
bactéria
A barriga da
miséria
Tirei com
tranquilidade
Do pão com
manteiga e queijo
Hoje só resta
a saudade
A vida ficou
sem graça
Não se pode
comer massa
Por causa da
obesidade
Eu comi ovo à
vontade
Sem ter contra
indicação
Pois o tal
colesterol
Pra mim nunca
foi vilão
Hoje a vida é
uma loucura
Dizem que
qualquer gordura
Nos mata do
coração
Com a
modernização
Quase tudo é
proibido
Pois sempre
tem uma Lei
Que nos deixa
reprimido
Fazendo tudo
que eu fiz
Hoje me sinto
feliz
Só por ter
sobrevivido
Eu nunca fui
impedido
De poder me
divertir
E nas casas
dos amigos
Eu entrava sem
pedir
Não se temia a
galera
E naquele
tempo era
Proibido
proibir
Vi o meu pai
dirigir
Numa total
confiança
Sem apoio, sem
air-bag
Sem cinto de
segurança
E eu no banco
de trás
Solto,
igualzinho aos demais
Fazia a maior
festança
No meu tempo
de criança
Por ter sido
reprovado
Ninguém ia ao
psicólogo
Nem se ficava
frustrado
Quando isso
acontecia
A gente só
repetia
Até que fosse
aprovado
Não tinha
superdotado
Nem a tal
dislexia
E a
hiperatividade
É coisa que
não se via
Falta de
concentração
Se curava com
carão
E disso
ninguém morria
Nesse tempo se
bebia
Água vinda da
torneira
De uma fonte
natural
Ou até de uma
mangueira
E essa água
engarrafada
Que diz-se
esterilizada
Nunca entrou
na nossa feira
Para a gente
era besteira
Ter perna ou
braço engessado
Ter alguns dentes
partidos
Ou um joelho
arranhado
Papai guardava
veneno
Em um armário
pequeno
Sem chave e
sem cadeado
Nunca fui
envenenado
Com as tintas
dos brinquedos
Remédios e
detergentes
Se guardavam,
sem segredos
E descalço, na
areia
Eu joguei bola
de meia
Rasgando as
pontas dos dedos
Aboli todos os
medos
Apostando umas
carreiras
Em carros de
rolimã
Sem usar
cotoveleiras
Pra correr de
bicicleta
Nunca usei,
feito um atleta,
Capacete e
joelheiras
Entre outras
brincadeiras
Brinquei de
Carrinho de Mão
Estátua, Jogo
da Velha
Bola de Gude e
Pião
De mocinhos e
Cawboys
E até de
super-heróis
Que vi na
televisão
Eu cantei Cai,
Cai Balão,
Palma é palma,
Pé é pé
Gata Pintada,
Esta Rua
Pai Francisco
e De Marré
Também cantei
Tororó
Brinquei de
Escravos de Jó
E o Sapo não
lava o pé
Com anzol e
jereré
Muitas vezes
fui pescar
E só saía do
rio
Pra ir pra
casa jantar
Peixe nenhum
eu pagava
Mas os banhos
que eu tomava
Dão prazer em
recordar
Tomava banho
de mar
Na estação do
verão
Quando papai
nos levava
Em cima de um
caminhão
Não voltava
bronzeado
Mas com o
corpo queimado
Parecendo um
camarão
Sem ter tanta
evolução
O Playstation
não havia
E nenhum jogo
de vídeo
Naquele tempo
existia
Não tinha
vídeo cassete
Muito menos
internet
Como se tem
hoje em dia
O meu cachorro
comia
O resto do
nosso almoço
Não existia
ração
Nem brinquedo
feito osso
E para as
pulgas matar
Nunca vi
ninguém botar
Um colar no
seu pescoço
E ele achava
um colosso
Tomar banho de
mangueira
Ou numa água
bem fria
Debaixo duma
torneira
E a gente
fazia farra
Usando sabão
em barra
Pra tirar sua
sujeira
Fui feliz a
vida inteira
Sem usar um
celular
De manhã ia
pra aula
Mas voltava
pra almoçar
Mamãe não se
preocupava
Pois sabia que
eu chegava
Sem precisar
avisar
Comecei a
trabalhar
Com oito anos
de idade
Pois o meu pai
me mostrava
Que pra ter
dignidade
O trabalho era
importante
Pra não me ver
adiante
Ir pra
marginalidade
Mas hoje a
sociedade
Essa visão não
alcança
E proíbe
qualquer pai
Dar trabalho a
uma criança
Prefere ver
nossos filhos
Vivendo fora
dos trilhos
Num mundo sem
esperança
A vida era bem
mais mansa,
Com um pouco
de insensatez.
Eu me lembro
com detalhes
De tudo que a
gente fez,
Por isso tenho
saudade
E hoje sinto
vontade
De ser criança
outra vez...
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