RECURSIVIDADE
- LINGUISTICA - PIRAHÃ - DAN EVERETT
Recursividade é um termo usado de
maneira mais geral para descrever o processo de repetição de um objeto de um
jeito similar ao que já fora mostrado. Um bom exemplo disso são as imagens
repetidas que aparecem quando dois espelhos são apontados um para o outro.
Definição
formal
Na matemática e na ciência da
computação, a recursão especifica (ou constrói) uma classe de objetos ou
métodos (ou um objeto de uma certa classe) definindo alguns poucos casos base
ou métodos muito simples (freqüentemente apenas um), e então definindo regras
para formular casos complexos em termos de casos mais simples.
Por exemplo, segue uma definição
recursiva da ancestralidade de uma pessoa:
Os pais de uma pessoa são seus antepassados
(caso base);
Os pais de qualquer antepassado são também
antepassados da pessoa em consideração (passo recursivo).
É conveniente pensar que uma
definição recursiva define objetos em termos de objetos “previamente definidos”
dessa mesma classe que está sendo definida.
Definições como esta são
frequentemente encontradas na matemática, por exemplo, a definição formal dos
números naturais diz que 0 (zero) é um número natural, e todo número natural
tem um sucessor, que é também um número natural.
Recursão na
linguagem
O uso mais antigo de recursão na
lingüística, e o uso da recursão em geral, remete ao lingüista Pāṇini em meados de 500 AC, o
qual fez uso da recursão nas regras gramaticais do Sânscrito (língua clássica
da Índia antiga que influenciou praticamente todos os idiomas ocidentais).
O lingüista Noam Chomsky lançou a
teoria de que a extensão ilimitada de uma língua natural é possível apenas pelo
mecanismo recursivo de encaixar frases em frases. Assim, uma garotinha tagarela
pode muito bem dizer, "Dorothy, que encontrou a Bruxa Má do Oeste na Terra
dos Munchkins, onde a bruxa má da sua irmã foi morta, liquidou-a com um balde
de água.” Claramente, duas frases simples — "Dorothy encontrou a Bruxa Má
do Oeste na Terra dos Munchkins" e "Sua irmã foi morta na Terra dos
Munchkins" — podem ser encaixadas em uma terceira frase, "Dorothy
liquidou-a com um balde de água", para obter uma frase exacerbadamente
prolixa.
Aqui está uma outra maneira,
possivelmente mais simples, de se entender processos recursivos:
Nós já terminamos? Se sim, retorne os
resultados. Sem uma condição de parada como esta, uma recursão iria se repetir
eternamente.
Se não, simplifique o problema, resolva
o(s) problema(s) mais simples, e então encaixe os resultados na solução do
problema original. Então retorne a solução.
Aqui vai uma ilustração mais
humorística: "Para entender a recursão, a pessoa deve primeiro entender a
recursão." Ou talvez seja mais adequado o exemplo seguinte criado por
Andrew Plotkin: "Se você já sabe o que é a recursão, apenas se lembre da
resposta. Caso contrário, encontre alguém que esteja mais próximo de Douglas
Hofstadter do que você; então pergunte a ele ou a ela o que é a recursão."
Exemplos de objetos matemáticos
freqüentemente definidos recursivamente são funções, conjuntos, e especialmente
fractais.
A recursão em
português claro
A recursão é o processo pelo qual
passa um certo procedimento quando um dos passos do procedimento em questão
envolve a repetição completa deste mesmo procedimento. Um procedimento que se
utiliza da recursão é dito recursivo. Também é dito recursivo qualquer objeto
que seja resultado de um procedimento recursivo.
Para entendermos a recursão,
devemos primeiro compreender a diferença entre um procedimento e a execução de
um procedimento. Um procedimento é um conjunto de passos que devem ser tomados
baseados em um conjunto de regras. A execução de um procedimento envolve seguir
de fato as regras e executar os passos. Uma analogia para isso é que um procedimento
é como uma ementa (cardápio) que nos fornece as opções possíveis, enquanto a
execução de um procedimento é escolhermos de fato qual refeição nos será
servida.
Um procedimento é dito recursivo
quando um de seus passos consiste na chamada de uma nova execução do
procedimento. Conseqüentemente, uma refeição recursiva com quatro pratos seria
uma refeição em que a entrada, a salada, o prato principal ou a sobremesa por
si próprios já consistissem em refeições. Então uma refeição recursiva poderia
ser feita por purês de batata, salada verde, frango grelhado, e para sobremesa,
uma refeição de quatro pratos com bolinhos de bacalhau, salada de legumes, como
prato principal uma refeição de quatro pratos, e para sobremesa um pedaço de
bolo de chocolate, e assim sucessivamente até que a refeição esteja completa.
Um procedimento recursivo deve
completar cada um de seus passos. Mesmo se uma nova chamada é feita, cada
execução deve passar por cada um dos passos restantes. O que isso quer dizer é
que, mesmo a salada sendo ela própria uma refeição inteira de quatro pratos,
você ainda deverá comer o prato principal e a sobremesa.
Significado de Recursividade
sf (recursivo+i+dade) Ling
Propriedade sintática pela qual um elemento pode aparecer um número infinito de
vezes numa derivação, introduzido sempre pela mesma regra. Ex: O filho da irmã
da mãe de José.
Exemplo com a palavra
recursividade
Me refiro à ausência de números,
a ausência da contagem e das cores, a ausência de mitos de criação e a recusa
em falar do passado distante ou do futuro distante. Várias coisas como essa,
incluindo a característica especial da recursividade, a possibilidade de manter
um processo em andamento na sintaxe para sempre. Folha de São Paulo, 03/04/2012
Significados de Recursivo :
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1. Recursivo
Por Dicionário inFormal (SP) em
04-01-2013
A recursão é o processo pelo qual
passa um certo procedimento quando um dos passos do procedimento em questão
envolve a repetição completa deste mesmo procedimento.
"Para entender a recursão, a
pessoa deve primeiro entender a recursão."
2. Recursivo
Por Dicionário inFormal (SP) em
05-05-2010
Vem do grego rec-ursa, que
significa uma pessoa que pegou várias recuperações repetidamente.
Ele foi um aluno recursivo esse
ano.
recursividade | s. f.
re·cur·si·vi·da·de
(recursivo + -idade)
substantivo feminino
1. Qualidade do que é recursivo.
2. [Informática] Propriedade de função, programa ou afim que
se pode invocar a si próprio.
3. [Linguística] Possibilidade de aplicar uma regra repetidamente
na construção de enunciados.
"recursividade", in
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
http://www.priberam.pt/dlpo/recursividade [consultado em 15-05-2014].
Recursividade
na língua e habilidades cognitivas superiores
Desde o seu surgimento, nos anos
50, a Teoria Gerativa tem enfatizado o caráter recursivo da sintaxe como uma
das características cruciais das línguas humanas. São freqüentes também na
literatura as analogias, baseadas nessa propriedade em particular, entre o
sistema numérico e a língua (cf. Chomsky, 1998;
2007, dentre outros). Entretanto,
apesar do seu uso bastante difundido na literatura, o conceito de
recursividade, aplicado tanto ao domínio da língua quanto a outros campos, não
tem recebido uma definição clara e unívoca. Percebe-se que, até pouco tempo
atrás, não havia na literatura uma preocupação manifesta por esclarecer os
pontos obscuros associados à noção. Essa situação tem começado a mudar
recentemente com a publicação de alguns trabalhos que visam a discutir os
alcances e
limites do conceito, tanto no
seio da Teoria Lingüística quanto no que diz respeito a sua aplicação nas
Ciências Cognitivas de um modo geral (Arsenijevic & Hinzen, 2010; Lobina
& García-Albea, 2009; Tomalin, 2007).
Parker (2006a; 2006b) destaca que
as definições apresentadas na Teoria Lingüística são freqüentemente “opacas”.
Esse parece não ser, contudo, um problema exclusivo da lingüística uma vez que,
segundo a autora, na Ciência da Computação, da qual a lingüística herdou a
noção, as definições careceriam de um fio condutor comum. Também na Matemática,
campo no qual o termo foi originalmente cunhado, registra-se uma situação similar
(cf. Soare, 1996).
Pode-se afirmar assim que
recursividade é um termo potencialmente problemático (Parker, 2006a e 2006b;
Lobina & García-Albea, 2009; dentre outros).
Nesse sentido, este capítulo tem
como objetivos: explorar essa noção – tradicionalmente considerada como uma
propriedade central nas línguas naturais – e discutir, em que medida e sob
quais aspectos, a recursividade poderia desempenhar um papel no modo como a
língua interage com outros domínios cognitivos. Cabe, pois, formular as seguintes
questões: A que se refere exatamente o termo recursividade
no âmbito da lingüística? Em que
sentido pode-se falar de recursividade em outros domínios cognitivos fora da
linguagem? Pode-se oferecer uma definição
geral de recursividade, com aplicabilidade inter-domínios?
As seguintes seções visam a
iluminar as questões problemáticas acima colocadas. Em primeiro lugar, são
discutidos os alcances e limites do termo recursividade tanto na Teoria
Lingüística quanto em outros campos do conhecimento, quais sejam, a Matemática
e a Ciência da Computação. Essa discussão é conduzida a partir de três pontos
centrais: (a) as interpretações associadas ao termo recursividade na Matemática
e na Ciência da Computação – disciplinas das quais provém o conceito incorporado
pela lingüística; (b) a maneira como a noção de recursividade foi incorporada
na Teoria Lingüística a partir dos anos 50 e (c) o impacto das duas questões
anteriores na interpretação de recursividade no contexto do PM.
Ver: 4 Recursividade na língua e
habilidades ... - PUC Rio
www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0710538_11_cap_04.pdf
limites do conceito, tanto no
seio da Teoria Lingüística quanto no que diz respeito a ... recursividade tanto
na Teoria Lingüística quanto em outros campos do ...
Primeiras
palavras
Pesquisas lingüísticas
recentemente publicadas e realizadas pelo antropólogo Daniel Everett com a
língua Pirahã do Sul do Amazonas parecem ter colocado fim no longo período de
estabilidade do paradigma chomskyano, que prevê a existência de uma gramática
universal comum a todas as línguas da humanidade. Se os argumentos de Everett,
os seus “feitos heróicos” se confirmarem, os postulados de Chomsky estariam
entrando em um período de crise para em seguida sofrerem uma profunda mudança.
Antes de entrarmos na polêmica Everett versus Chomsky, façamos um breve passeio
pela história da lingüística para entendermos um pouco sobre as principais
“convulsões metodológicas” pelas quais essa ciência passou.
A primeira
grande convulsão
O principal debate suscitado
nessa ciência foi protagonizado pelo lingüista norte-americano Noam Chomsky nos
anos cinqüenta do século passado. Em seu livro, “Syntactic Structures”,
Chomsky, apoiado no racionalismo clássico (cartesianismo) e na tradição lógica,
em seu programa de pesquisa critica veementemente os seguidores de Leonard
Bloomfield por seu modo estruturalista de analisar a linguagem. Para alguns
filósofos da lingüística Chomsky teria promovido com seu programa de pesquisa
uma verdadeira revolução científica, instaurando um novo paradigma científico.
Os estruturalistas, tributários
de Ferdinand de Saussure, considerado o pai da lingüística moderna, mais
especificamente, os distribucionalistas norte-americanos, partindo da
psicologia behaviorista, acreditavam que o estudo de uma língua deveria ser
feito a partir da uma reunião de um conjunto, de um corpus tão variado quanto
possível de frases efetivamente produzidas por falantes dessa língua, em
determinada época, com o objetivo de descrever as regularidades existentes
nessas falas. Para os estruturalistas as línguas se organizam em todos os seus
aspectos estruturais (fonéticos, morfológicos e sintáticos) de uma maneira
regular e reiterável.
O trabalho do lingüista
distribucionalista é descrever o funcionamento dessa organização. Por exemplo,
numa frase do português como “Os meninos são levados”, o estruturalista
começaria analisando essa estrutura decompondo todos os seus constituintes
imediatos, dividindo-os em unidades simples e associando cada uma dessas unidades,
com base em diferentes critérios categoriais, a diferentes classes. Assim,
identificaria o artigo “Os”; o nome “meninos”; o verbo “são” e o adjetivo
“levados”. Depois, verificaria como cada um desses constituintes imediatos se
relaciona com outros formando pequenos segmentos. Desse modo, relacionaria o
artigo “Os” com o nome “meninos” para formar o conjunto “Os meninos” e o verbo
“são” com o adjetivo “levados” para formar “são levados”. Por último, o
estruturalista definiria quais os papéis específicos que cada um desses
segmentos desempenha na frase. Dessa maneira, o conjunto “Os meninos” exerce a
função de sujeito e o conjunto “são levados” de predicado. Todo esse trabalho
de decomposição dos segmentos em constituintes menores a partir de um determinado
corpus de língua é fundamental para se observar, por exemplo, que uma das
regularidades lingüísticas estruturais do português é que o artigo vem sempre
anteposto ao substantivo.
O programa de pesquisa de Noam
Chomsky, no entanto, rebaterá duramente a postura analítica dos
estruturalistas. O lingüista norte-americano afirma que o homem já nasce com a
linguagem. Ela faz parte da natureza humana. Desse modo, para ele uma língua
não se restringe a um corpus, pois enquanto este se constitui num conjunto
finito de frases a língua torna possível um conjunto infinito: a uma frase pode
juntar-se outra, outra ainda e assim sucessivamente. Ademais, segundo Chomsky
uma língua não se restringe a um conjunto de frases, mas se constitui num saber
a propósito dessas frases. Ou seja, os falantes possuem um saber inato sobre
sua própria língua que os habilita a distinguir uma frase gramatical de uma
frase agramatical. Por exemplo, um falante do português é capaz de reconhecer a
frase “Os meninos são levados” como gramatical e “Levados os são meninos” como
agramatical.
Chomsky argumenta que a gramática
de uma língua se constitui num conjunto de regras, de instruções, cuja
aplicação mecânica produz frases admissíveis dessa língua. Surge a Gramática
Gerativa, gerativa porque possibilita, a partir de um conjunto limitado de
regras, gerar um número infinito de frases. A língua no entendimento de Noam
Chomsky não se define somente pelas frases existentes, mas também por aquelas
possíveis de ser criadas a partir das regras.
Essas regras são interiorizadas pelos falantes que os torna aptos a
produzir frases mesmo sem que estes tenham sequer ouvido essas frases. Chomsky
define como recursividade essa capacidade a partir da qual somos capazes de
produzir uma variedade ilimitada de sentenças de comprimento indeterminado
apenas combinando as poucas regras da língua.
Como o que está em causa para
Chomsky é um falante ideal e não um falante real, sua teoria conduz à
existência de uma gramática universal em que alguns traços são comuns a todas
as línguas da humanidade. Por exemplo, toda língua possui recursividade; toda
língua distingue nomes e verbos; toda língua distingue três pessoas do
discurso; toda língua tem pelo menos três vogais. O que implica dizer que para Chomsky a
linguagem independe do meio cultural em que os falantes vivem.
A segunda grande convulsão
Foi necessário esperar quase
cinqüenta anos para que tivéssemos mais uma grande polêmica na lingüística.
Desta vez é o próprio programa de pesquisa de Noam Chomsky que é posto à prova.
O antropólogo Daniel Everett após estudar por cerca de 30 anos os Pirahãs,
grupo indígena, localizado no Sul do Amazonas, constituído por cerca de 350
indivíduos questionou a afirmação chomskyana de uma gramática universal dizendo
que os índios Pirahãs têm o seu pensamento determinado pela cultura e não por
aspectos cognitivos com afirma Chomsky com a gramática universal.
O estudo de Everett foi publicado
em 2005 no periódico “Current Anthropology”. Nesse estudo, o lingüista
norte-americano afirma que os Pirahãs
usam apenas oito consoantes e três vogais, não têm tempos verbais, contam até
três, não têm palavras para cores e não possuem mitos para a sua criação.
Everett afirma ainda em seu estudo que a língua dos Pirahãs não possui
recursividade, ou seja, a capacidade de formar sentenças encaixando uma frase em outra. Por exemplo, para dizer
que “O arco é do irmão de Pedro” um Pirahã diria: “O arco de Pedro”; “O irmão
de Pedro”. A inexistência da recursividade na língua Pirahã se constitui num
forte argumento contrário à tese chomskyana da gramática universal.
Torçamos para que mais “abalos
sísmicos” ocorram não só na lingüística, mas nas ciências da linguagem de uma
maneira geral. Somente assim elas terão a sua maturidade científica garantida.
Até o próximo encontro.
Produção: Roberto Leiser Baronas
- Doutor em Lingüística e Língua Portuguesa, Professor Adjunto do Departamento
de Letras - DL e do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da UFSCar - PPGL,
Pesquisador do LABOR- Laboratório de
Estudos do Discurso Político e do Grupo de Estudos de Análise do Discurso de
Araraquara – GEADA.
Recursividade em Pirahã
Os Pirahã (família Mura) vivem
hoje ao longo do rio Maci, entre os municípios de Humaitá e Manicoré no estado
do Amazonas. Esse era um povo basicamente desconhecido até 2005, quando o pesquisador
americano Daniel Everett publicou um artigo na revista Current Anthropology
(University of Chicago Press) defendendo a existência das seguintes lacunas na
língua e cultura Pirahã:
(1) Lacunas sintáticas e lexicais
a. Ausência de encaixamentos sintáticos
(recursividade);
b. Ausência de termos para
números e de conceito de numerosidade;
c. Ausência de quantificadores;
d. Ausência de tempo relativo;
e. Ausência de termos para cores;
f. Sistema pronominal
extremamente simplificado.
(2) Lacunas culturais
a. Ausência de mitos de criação e
ficção;
b. Ausência de memória individual
ou coletiva sobre eventos que aconteceram
no passado;
c. Incapacidade de adquirir uma
segunda língua;
d. Ausência de arte;
e. Sistema de parentesco extremamente
simplificado;
f. Material cultural quase
inexistente.
Everett argumenta que essas
lacunas estão correlacionadas, sendo todas consequências do principio da
experiência imediata:
(3) Principio da experiência
imediata
A comunicação é restrita à experiência
imediata dos interlocutores.
Esta publicação provocou forte
reação de linguistas teóricos do mundo inteiro, os quais argumentaram que o
princípio em (3) não explica: (a) as lacunas de linguagem em (1); (b) como
essas lacunas se correlacionam às lacunas culturais em (2). Em 2009, os
pesquisadores Andrew Nevins, David Pesetsky e Cilene Rodrigues publicaram na
revista Language uma resposta ao artigo de Everett, colocando em dúvida a
existências das lacunas em (1) e (2). Este trabalho foi realizado tomando como
fonte de dados os trabalhos anteriores de Everett sobre a língua Pirahã e o
trabalho do antropólogo Marco Antonio Gonçalves sobre a cosmologia Pirahã.
Aqueles autores concluíram que as lacunas em (1) e (2) não são reais, mas
resultado de falhas na interpretação dos dados. Observaram ainda que a língua
Pirahã compartilha propriedades com várias outras línguas do mundo como, por
exemplo, o Alemão. Assim como em Pirahã, o Alemão, em construções envolvendo
caso genitivo, não aceita múltiplos encaixamentos de sintagmas nominais
possessivos. Everett (2009)
contra-argumenta, desqualificando as fontes de informação usadas por Nevins,
Pesetsky & Rodrigues. Segundo Everett, seus escritos anteriores à publicação
de (2005) contêm dados incorretos, não podendo, portanto, servir como fonte de
dados sobre a língua Pirahã.
A controvérsia entre Daniel
Everett e linguistas teóricos sobre a língua amazônica Pirahã ganhou ainda mais
fôlego com a publicação em (2008) do livro Don’t sleep, there are snakes: life
and language in the Amazonian Jungle, de autoria de Daniel Everett, e com o
lançamento do filme The grammar of happiness, ganhador de prêmio da FIPA em
2012 na França. Isso incendiou a mídia e o povo Pirahã virou assunto em várias
páginas da Internet e em jornais importantes do mundo, como New York Times e
Folha de São Paulo. Apesar de tanta
atenção, no entanto, a questão acadêmica e científica sobre a língua e cultura
dos Pirahã ainda é obscura.
Recentemente (Julho/2012), Cilene
Rodrigues & Filomena Sandalo realizaram pesquisa de campo com dois membros
da comunidade Pirahã (Augusto Diarroi e Iapohen Pirahã) com ênfase na questão
da recursividade em sintagmas preposicionais, sintagmas nominais e sentenças. O
trabalho a ser apresentado é o resultado desta experiência.
tardesdelinguistica@gmail.com
Tribo do AM causa guerra na
lingüística
Americano diz que a língua dos
pirahãs, que só contam até três, desafia a teoria mais aceita sobre a linguagem
humana
Segundo Daniel Everett, idioma é
exceção à chamada Gramática Universal; trio que analisou trabalho, no entanto,
critica a hipótese.
O lingüista Dan Everett, que
viveu sete anos com os pirahãs
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Uma tribo de caçadores-coletores
do sul do Amazonas está colocando lingüistas e antropólogos em pé de guerra.
Segundo um pesquisador, a língua dos pirahãs, um grupo de 350 pessoas que
habitam o rio Maici, perto da divisa com Rondônia, é tão excepcional que põe em
xeque a principal teoria vigente sobre a linguagem humana. A tese, no entanto,
é contestada por outros lingüistas.
Os pirahãs ficaram famosos entre
os acadêmicos devido ao trabalho do americano Daniel Everett, 55, um
ex-missionário cristão que hoje é professor da Universidade Estadual de
Illinois. Ele começou a estudar a língua da tribo nos anos 1970, com o objetivo
(que nunca foi cumprido) de catequizá-los.
Enquanto aprendia a língua,
vivendo numa aldeia pirahã com a mulher e os filhos, Everett descobriu uma
série de peculiaridades no idioma. Os pirahãs não têm palavras para cores. Usam
apenas oito consoantes e três vogais. Não possuem mitos de criação, não têm
tempos verbais, não fazem arte só sabem contar até três.
Em 2005, Everett publicou no
periódico "Current Anthropology" um artigo no qual afirmava também
que a língua pirahã não tem recursividade, ou seja, a capacidade de formar
sentenças encaixando uma frase na outra. Assim, um pirahã seria capaz de dizer
"a canoa de João", "o irmão de João", mas nunca "a
canoa do irmão de João". Como vivem numa sociedade extremamente simples,
onde o que conta é a experiência imediata (o aqui e agora), os pirahãs,
argumenta Everett, têm sua língua (e, portanto, seu pensamento) limitados pela
cultura -um caso único.
O trabalho caiu como uma bomba no
meio lingüístico. Se Everett estivesse certo, o idioma pirahã seria um sério
desafio à teoria da Gramática Universal. Desenvolvida pelo influente lingüista
americano Noam Chomsky, a teoria afirma que todos os seres humanos possuem uma
faculdade inata da linguagem, uma espécie de "órgão da linguagem" no
cérebro. Essa capacidade independeria do meio cultural, tendo sido impressa nos
circuitos cerebrais do Homo sapiens pela evolução. E a principal marca dessa
faculdade é justamente a recursividade.
Uma exceção a essa regra
significaria ou que os pirahãs não são humanos ou que o arcabouço intelectual
chomskiano -sob o qual se formaram gerações de lingüistas- está falido.
Everett, é claro, aposta na segunda hipótese.
Bombando
A tese de Everett sobre como a
chamada "experiência imediata" limita a competência lingüística dos
pirahãs saiu do domínio da academia na semana passada e se espalhou como
rastilho de pólvora na imprensa popular. Uma reportagem de 20 páginas
intitulada "O Intérprete - Será que uma tribo remota da Amazônia virou do
avesso nossa compreensão da linguagem?" foi publicada na prestigiosa
revista americana "The New Yorker" e citada por jornais on-line,
revistas e blogs nos EUA e no Brasil.
No entanto, no final do mês
passado, antes de a "New Yorker" ir para a banca, um trio de
lingüistas dos EUA e do Brasil postou no site especializado Lingbuzz um artigo
contestando ponto a ponto o trabalho de Everett. Andrew Nevins, da Universidade
Harvard, David Pesetsky, colega de Chomsky no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, e Cilene Rodrigues, da Unicamp, afirmam -com base em trabalhos
anteriores do próprio Everett- que o pirahã não apresenta desafio à Gramática
Universal.
JC e-mail 3244, de 16 de abril de
2007
22. Tribo do
Amazônia causa guerra na lingüística
Americano diz que a língua dos
pirahãs, que só contam até três, desafia a teoria mais aceita sobre a linguagem
humana. Segundo Daniel Everett, idioma é exceção à chamada Gramática Universal;
trio que analisou trabalho, no entanto, critica a hipótese
Claudio Ângelo, editor de
Ciência, escreve para a Folha
de SP:
Uma tribo de caçadores-coletores
do sul do Amazonas está colocando lingüistas e antropólogos em pé de guerra.
Segundo um
pesquisador, a língua dos pirahãs, um grupo de 350 pessoas que habitam o rio
Maici, perto da divisa com Rondônia, é tão excepcional que põe em xeque a
principal teoria vigente sobre a linguagem humana.
A tese, no entanto, é contestada
por outros lingüistas.
Os pirahãs ficaram famosos entre
os acadêmicos devido ao trabalho do americano Daniel Everett, 55, um
ex-missionário cristão que hoje é professor da Universidade Estadual de
Illinois.
Ele começou a estudar a língua da
tribo nos anos 1970, com o objetivo (que nunca foi cumprido) de catequizá-los.
Enquanto aprendia a língua,
vivendo numa aldeia pirahã com a mulher e os filhos, Everett descobriu uma
série de peculiaridades no idioma.
Os pirahãs não têm palavras para
cores. Usam apenas oito consoantes e três vogais. Não possuem mitos de criação,
não têm tempos verbais, não fazem arte só sabem contar até três.
Em 2005, Everett publicou no
periódico "Current Anthropology" um artigo no qual afirmava também
que a língua pirahã não tem recursividade, ou seja, a capacidade de formar
sentenças encaixando uma frase na outra.
Assim, um pirahã seria capaz de
dizer "a canoa de João", "o irmão de João", mas nunca
"a canoa do irmão de João".
Como vivem numa sociedade
extremamente simples, onde o que conta é a experiência imediata (o aqui e
agora), os pirahãs, argumenta Everett, têm sua língua (e, portanto, seu
pensamento) limitados pela cultura -um caso único.
O trabalho caiu como uma bomba no
meio lingüístico. Se Everett estivesse certo, o idioma pirahã seria um sério
desafio à teoria da Gramática Universal.
Desenvolvida pelo influente
lingüista americano Noam Chomsky, a teoria afirma que todos os seres humanos
possuem uma faculdade inata da linguagem, uma espécie de "órgão da
linguagem" no cérebro.
Essa capacidade independeria do
meio cultural, tendo sido impressa nos circuitos cerebrais do Homo sapiens pela
evolução. E a principal marca dessa faculdade é justamente a recursividade.
Uma exceção a essa regra
significaria ou que os pirahãs não são humanos ou que o arcabouço intelectual
chomskiano sob o
qual se formaram gerações
de lingüistas está falido. Everett, é claro, aposta na segunda hipótese.
Bombando
A tese de Everett sobre como a
chamada "experiência imediata" limita a competência lingüística dos
pirahãs saiu do domínio da academia na semana passada e se espalhou como
rastilho de pólvora na imprensa popular.
Uma reportagem de 20 páginas
intitulada "O Intérprete - Será que uma tribo remota da Amazônia virou do
avesso nossa compreensão da linguagem?" foi publicada na prestigiosa
revista americana "The New Yorker" e citada por jornais on-line,
revistas e blogs nos EUA e no Brasil.
No entanto, no final do mês
passado, antes de a "The New Yorker" ir para a banca, um trio de
lingüistas dos EUA e do Brasil postou no site especializado Lingbuzz um artigo
contestando ponto a ponto o trabalho de Everett.
Andrew Nevins, da Universidade
Harvard, David Pesetsky, colega de Chomsky no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, e Cilene Rodrigues, da Unicamp, afirmam com base em trabalhos anteriores do próprio Everett que o pirahã não apresenta desafio à Gramática
Universal.
Longe de ser "único",
pirahã tem traços comuns com o alemão, dizem críticos
No trabalho "A
Excepcionalidade do Pirahã: uma reavaliação", os lingüistas compararam o
pirahã com várias línguas e descobriram que o idioma, longe de ser um
"caso excepcional", tem semelhanças com o alemão, o bengali e o
chinês.
A suposta matemática única dos
pirahãs, afirmam, é compartilhada por outras tribos da Amazônia, como os xetás
(até mesmo o tupi tinha um sistema de contagem limitado), que só contam até
três.
E há, sim, evidências de
recursividade.
Além disso, Everett tem
despertado a fúria de antropólogos e lingüistas brasileiros, que o acusam
veladamente de "monopolizar" os pirahãs, restringindo o acesso de
outros às aldeias, e de pesquisar sem autorização da Funai (Fundação Nacional
do Índio) o que a
sede da Funai confirma.
"No cerne disso tudo há uma
confusão sobre o que é a Gramática Universal", disse David Pesetsky à Folha de SP.
Acho que Everett confundiu a teoria de Chomsky, Hauser
e Fitch", afirmou, referindo-se à sua reformulação, que Chomsky publicou
em 2003 junto com Marc Hauser, de Harvard, e Tecumseh Fitch, da Universidade
St. Andrews (Escócia).
"O fato de não se poder
dizer em pirahã "A canoa do irmão de João", por exemplo, existe em
alemão. Everett diz que esse fato em pirahã se deve à cultura extremamente
limitada, mas os alemães não têm essa limitação cultural. Eles navegam na
Internet. Então, o fato em alemão não se deve à cultura."
Sem elaboração
Rodrigues afirma que Everett
"não tem uma teoria e sim uma hipótese", que padece de uma
"falta de elaboração teórica".
"A experiência imediata,
para nós, é uma forma que ele encontrou de colocar todas as observações que ele
acha interessantes no mesmo saco. Isso é cientificamente frágil",
disparou.
"E, se fosse assim, por que
a limitação cultural só influencia a linguagem e não outras partes do sistema
cognitivo, como a visão?", questiona.
Everett
publicou no mesmo Lingbuzz uma resposta a Rodrigues e colegas, a quem chama de
"lingüistas de gabinete".
Também os acusa de ter usado seus
escritos de 20 anos atrás para refutar sua tese.
"Não há
evidência em pirahã de recursividade", disse Everett à Folha, por e-mail,
num português perfeito.
"Além do mais, o Chomsky nem
define bem o que ele quer dizer com isso - muito menos o Fitch, que foi comigo
para a aldeia.
Everett, que tem visto de
residente permanente no Brasil, diz que sempre pesquisa com autorização
"do delegado da Funai de Porto Velho" e que sempre estimula, não
impede, que outros visitem a área.
"No entanto, os pirahãs
quase não falam português e eu sou o único pesquisador secular que já aprendeu
a língua deles."
Tecumseh Fitch diz que a questão
ainda está aberta. "[Mas] é um truísmo que a cultura molda a linguagem. É
por isso que o brasileiro tem a palavra "samba" e escocês tem a
palavra "haggis".
E daí? As implicações disso para
a Gramática Universal são nulas."
Ele continua: "Everett, como
muitos críticos de Chomsky, tem uma concepção própria da Gramática Universal,
contra a qual ele se bate".
Mas seus dados "são tão
convincentes quanto a falta de evidência pode ser ou seja, não
muito". (CA)
Leia os artigos de Nevins e
colegas e a resposta de Everett (em inglês) no site:
ling.auf.net/lingbuzz/@FMOHZRLOElguQmMB/VKSrtjhf?230
(Folha de SP, 16/4)
A expressão da Recursividade em
Pirahã: documentação, descrição e análise (Mura)
Beneficiário:
Glauber Romling da Silva
Instituição: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP, Brasil
Pesquisador responsável:
Maria Filomena Spatti Sandalo
Área do conhecimento: Linguística, Letras e Artes - Linguística -
Teoria e Análise Lingüística
Linha de fomento: Bolsas no Brasil - Pós-Doutorado
Processo: 13/11693-7
Vigência: 01 de setembro de 2013 - 31 de agosto de 2015
Vinculado ao auxílio: 12/17869-7 - Fronteiras e assimetrias em
fonologia e morfologia, AP.TEM
Assunto(s): Línguas indígenas
Resumo
Este projeto tem dois objetivos interconectados:
(i) documentar e descrever os principais aspectos da fonologia e da
morfossintaxe da língua Pirahã (Mura) e (ii) investigar teoricamente a
expressão da recursividade nessa língua. Recentemente, o Pirahã suscitou
acirrado debate internacional sobre os limites, ou mesmo a existência, da
recursividade (Everett, 2005; Nevins et alii 2009a, 2009b; Everett, 2009), como
"pedra angular" da capacidade humana de linguagem (Hauser, Chomsky
& Fitch, 2002). Descobertas recentes mostram que a presença/ausência de
estruturas recursivas é uma evidência fundamental para a parametrização durante
o período de aquisição (Snyder, 2005; Roeper & Snyder, 2005, (a aparecer)).
O Pirahã oferece evidências para uma recursividade sintática limitada (Nevins
et alii (2009a, 2009b), Rodrigues & Sandalo, (2013)), pois seleciona um
subconjunto das possibilidades gramaticais providas pela UG (universal
grammar). Nesse contexto, buscaremos (i) mapear quais são as categorias
lexicais e funcionais que são recursivas em Pirahã; (ii) que tipo de
recursividade expressam; (iii) em que nível a expressam; (iv) em que grau de
restrição operam; e, sobretudo, (v) que restrições locais operam. Paralelamente
a esses objetivos mais teóricos, construiremos acervo digital contendo sessões
de áudio e vídeo resultantes da gravação de eventos verbais anotadas
(transcrição, tradução, glosagem e notas) e acompanhadas de metadata. Para isso
utilizaremos o programas de gestão de base de dados FLEx (sil.org), o criador
de metadata Arbil (Withers (2009)), o anotador ELAN (Slotjes & Wittenburg
(2008)) e o formatador de dicionários (sil.org). Os desdobramentos esperados
são uma gramática descritiva e um léxico em formato de dicionário. Parte deste
acervo será incorporada ao Corpus Tycho Brahe (Galves & Faria, 2011)
(doravante, CTB) e, como modelo de arquitetura de acervo, isso poderá servir
como catalisador para a agregação e adaptação de outros materiais sobre línguas
indígenas e/ou pouco documentadas. A vantagem dessa incorporação é que o CTB
provê anotação sintática e é capaz de gerar hipóteses sobre seus padrões. Dessa
forma, aliamos o poder de uma ferramenta computacional de documentação à
investigação teórica de uma língua natural humana. (AU)
Variabilidade
das línguas e invariância: escolhas efetuadas pelas teorias
1 José Borges Neto
UFPR/CNPq
1. Introdução.
A história dos estudos
linguísticos mostra um panorama de alterações polares
entre perspectivas focadas na
variabilidade das línguas e perspectivas focadas na busca da invariância, com
nítida preferência pelas perspectivas universalistas.
As teorias que buscam a
invariância nas línguas, de certa forma, ignoram metodologicamente as
evidências de variabilidade, enquanto as teorias que adotam a perspectiva,
digamos, variacionista, ao contrário, dirigem seu olhar para as evidências de
variação e ignoram eventuais achados de invariância.
Embora o foco selecionado dirija
o olhar do cientista para um dos polos – e o faça desprezar evidências
relativas ao outro polo – podemos dizer, sem medo de errar, que nenhum linguista
assume essa “escolha de lado” de forma tão radical que o leve a dizer que só
existe variação (sem qualquer invariância) ou que nada varia. A questão, no
fundo se restringe a escolhas relacionadas ao grau ou à centralidade explicativa
da variabilidade/invariabilidade.
Os debates sobre a variabilidade ou
invariabilidade das coisas podem ser rastreados até pelo menos a filosofia
grega do séc. V a.C., nos bem conhecidos debates entre o mundo dinâmico de
Heráclito e o mundo eterno, único e imutável de Parmênides. As imagens da chama
e do cristal têm sido usadas desde então como representação da controvérsia:
para Heráclito o mundo é chama e para Parmênides, cristal.
Parmênides, no entanto, não
negava a variação, negava apenas que ela constituísse uma força explicativa, já
que o mundo aparentemente variável era apenas uma ilusão, fruto das sensações e
das aparências. Heráclito, por sua vez, não ignorava a unidade do mundo, apenas
a considerava resultante da luta dos contrários. Ou seja, para ambos havia
variação e invariância, mas para Parmênides a variação era ilusória e o mundo
devia ser abordado a partir da perspectiva da invariância e, para Heráclito, a invariância
era uma espécie de momento de equilíbrio da variação.
Dessa forma, podemos dizer que a
questão não é empírica. Os dados brutos não nos dizem como estudá-
los e, portanto, as razões para a
escolha de uma ou de outra perspectiva devem ser procuradas em outro lugar que
não nos fenômenos.
No século XX, o estruturalismo assumiu
claramente a perspectiva da variabilidade das línguas. A metodologia
estruturalista – tanto no estruturalismo europeu quanto no estruturalismo
americano – assumia como posição básica que cada língua a ser analisada devia
ser considerada como uma estrutura sui generis e que a tentativa de aplicar a
uma língua recém - descoberta as categorias aplicadas às línguas já conhecidas devia
ser evitada.
Com o surgimento da gramática
gerativa, nos anos 50, a perspectiva “universalista” volta ao centro da cena: a
busca da invariância passa a ser a tarefa central dos estudos linguísticos.
1 Texto de conferência proferida
durante o IV Seminário de Estudos Linguísticos da UNESP, promovido
pelos Programas de Pós - Graduação
em Estudos Linguísticos (IBILCE – São José do Rio Preto) e Linguística e Língua
Portuguesa (FCL – Araraquara), Araraquara, 03/09/2012.
Variabilidade das línguas e
invariância: escolhas ... - people
people.ufpr.br/~borges/publicacoes/.../variabilidade_e_invariancia.pdf
de JB Neto - Artigos relacionados
A história dos estudos
linguísticos mostra um panorama de alterações .... Se a criança consegue, a
ausência de recursividade na língua pirahã não teria.
Livro e filme
sobre língua indígena rara desperta controvérsias
Linguistas criticam obra de Dan
Everett sobre a tribo piraha, isolados caçadores da Amazônia que visitou
The New York Times | 25/03/2012
Em seu livro de memórias de 2008,
"Don’t Sleep, There Are Snakes" (Não Durma, Pois Há Cobras, em
tradução livre), o linguista Dan Everett se lembrou da noite em que os membros
da tribo piraha - os isolados caçadores da Amazônia que visitou pela primeira
vez como missionário cristão na década de 1970 - tentaram matá-lo .
Everett sobreviveu e sua vida
entre os pirahas, grupo de centenas de pessoas que habitam o noroeste do
Brasil, se tornou pacífica e ele se estabeleceu como uma das maiores
autoridades acadêmicas sobre o grupo e uma das poucas pessoas de fora da tribo
a dominar sua difícil língua.
Equador:
Projeto tenta preservar língua ancestral dos índios
Sua vida entre os seus colegas
linguistas, no entanto, tem sido bem menos idílica, e um debate sobre sua
credibilidade acadêmica está prestes a ser retomado graças a seu novo e
ambicioso livro “Language: The Cultural Tool" (Idioma: A Ferramenta cultural,
em tradução livre), e um documentário para televisão que apresenta um de seus
admiráveis pontos de vista a respeito de sua pesquisa entre os piraha
juntamente com o ponto de vista mais sombrio de alguns de seus críticos.
Dan Everett na região da Amazônia
onde vivem os piraha, em 1981
Em 2005, Everett ganhou
reconhecimento internacional quando publicou um relatório dizendo que havia
identificado algumas características peculiares da língua piraha que desafiavam
a influente teoria de Noam Chomsky, proposta na década de 50, de que a
linguagem humana é regida pela "gramática universal", uma capacidade
geneticamente determinada que impõe o mesmo formato fundamental em todas as
línguas do mundo.
O estudo, publicado na revista
Current Anthropology, transformou-o em uma espécie de herói popular e ao mesmo
tempo criou uma certa controvérsia em sua carreira, com ele sendo retratado
pela imprensa como o estudioso que derrubou o poderoso Chomsky e denunciado por
alguns colegas linguistas como uma fraude, que busca apenas atenção, ou pior,
alguém que procura promover ideias dúbias sobre um grupo indígena ingênuo
enquanto se recusa a liberar seus dados para análise.
Em uma entrevista por telefone
Everett, 60 anos, que é o decano do departamento de artes e ciências da Universidade
de Bentley em Waltham, Massachusetts, insistiu que não está tentando comprar
uma nova briga e muito menos apresentar-se como um rival para o homem que chama
de "a pessoa mais inteligente que eu já conheci. "
"Sou peixe pequeno",
disse ele, acrescentando: "Em nenhum momento eu me coloquei no mesmo
patamar que Chomsky."
Trabalho
Em um muito citado trabalho
escrito por Chomsky em 2002, professor emérito de linguística no MIT, com o
auxílio de Marc D. Hauser e W. Tecumseh Fitch, declarou que a recursividade
(propriedade de linguagem que permite aos falantes para incorporar frases
dentro de frase) era o elemento crucial da gramática universal e a única coisa
que separa a linguagem humana de seus precursores evolutivos.
Mas Everett, que havia publicado
diversos trabalhos sobre os piraha durante duas décadas, anunciou em seu artigo
de 2005 que a língua deles carecia de recursividade, juntamente com os termos
para descrever cores, números e outras propriedades comuns da nossa linguagem.
Os piraha, Everett escreveu, demonstram essas lacunas linguísticas não porque
têm um pensamento menos evoluído, mas porque a sua cultura - que enfatiza
questões concretas do presente, não possui mitos que falem da criação e não
compartilham de tradições de criar arte - não as exigem.
Integrantes da tribo piraha,
donos de uma língua rara, na Amazônia
Em 2009, os linguistas Andrew
Nevins, Cilene Rodrigues e David Pesetsky, três dos mais ferozes críticos do
primeiro artigo de Everett, fizeram sua própria publicação no jornal Language,
contestando as pretensões linguísticas de Everett e expressando um certo
"desconforto" com seu relato sobre a suposta cultura simples da tribo
piraha. Sua principal fonte foi o material escrito pelo próprio Everett, cuja
tese de doutorado de 1982, eles argumentaram, mostrou evidências claras de
recursão por parte dos piraha.
"Ele estava certo da
primeira vez", disse Pesetsky, um professor do MIT. "A primeira vez
que fez sua pesquisa ele tinha motivos. A segunda vez ele já não tinha nenhum motivo
por trás de suas pesquisas".
A análise deles, apresentada na
reunião anual da Sociedade Linguística dos Estados Unidos em janeiro, não
encontrou cláusulas embutidas, mas chegou a descobrir "evidências
sugestivas" de recursividade. É um resultado pouco satisfatório para
Everett, que o questiona constantemente. Mas seus críticos, estranhamente,
também não parecem satisfeitos.
EUA: Para
evitar impostos, índios fabricam seus próprios cigarros
Pesetsky rejeitou todo o esforço
como sendo tendencioso desde o início por sua dependência em classificações
gramaticais feitas por Everett e suas suposições básicas. "Eles
superestimaram a correção da hipótese que eles mesmos estavam tentando
refutar", disse.
Os críticos de Everett o culpam
por ele não querer liberar seus dados de sua pesquisa de campo, mesmo sete anos
após o surgimento da polêmica. Ele respondeu que está atualmente trabalhando
para traduzir todo seu material e espera poder publicar algumas de suas
transcrições na internet "ao longo dos próximos meses."
Sua maior indignação, ele disse,
é o fato de como alguns outros estudiosos o acusaram de ter feito uma “pesquisa
racista" e de interferirem com seu acesso a tribo dos Piraha.
Independentemente das razões
pelas quais ele teve o seu acesso negado, ele está contando com a ajuda dos
próprio piraha, que são mostrados ao final do documentário “The Grammar of
Happiness” (A Gramática da Felicidade, em tradução literal), no qual gravaram
um apelo emocional para o governo brasileiro.
"Nós
amamos Dan", um homem diz para a câmera. "Dan fala a nossa
língua."
*Por Jennifer Schuessler
104. Amazonas:
túmulo do Gerativismo
Publicado em Segunda-feira, 30-Abr-2007
Recentemente, veio à luz na
imprensa a existência de uma língua que quebra com um dos preceitos
fundamentais da teoria lingüística do Gerativismo. Transcrevo o artigo de
Claudio Angelo, publicado na Folha de São Paulo. A minha única dúvida e se,
confirmada a inexistência de recursividade no pirahã, acabará a ditadura
gerativista do Departamento de Lingüística da Universidade de São Paulo.
«Uma tribo de caçadores-coletores
do sul do Amazonas está colocando lingüistas e antropólogos em pé de guerra.
Segundo um pesquisador, a língua dos pirahãs, um grupo de 350 pessoas que
habitam o rio Maici, perto da divisa com Rondônia, é tão excepcional que põe em
xeque a principal teoria vigente sobre a linguagem humana. A tese, no entanto,
é contestada por outros lingüistas.
Os pirahãs ficaram famosos entre
os acadêmicos devido ao trabalho do americano Daniel Everett, 55, um
ex-missionário cristão que hoje é professor da Universidade Estadual de
Illinois. Ele começou a estudar a língua da tribo nos anos 1970, com o objetivo
(que nunca foi cumprido) de catequizá-los.
Enquanto aprendia a língua,
vivendo numa aldeia pirahã com a mulher e os filhos, Everett descobriu uma
série de peculiaridades no idioma. Os pirahãs não têm palavras para cores. Usam
apenas oito consoantes e três vogais. Não possuem mitos de criação, não têm
tempos verbais, não fazem arte e só sabem contar até três.
Em 2005, Everett publicou no
periódico Current Anthropology um artigo no qual afirmava também que a língua
pirahã não tem recursividade, ou seja, a capacidade de formar sentenças
encaixando uma frase na outra. Assim, um pirahã seria capaz de dizer «a canoa
de João», «o irmão de João», mas nunca «a canoa do irmão de João». Como vivem
numa sociedade extremamente simples, onde o que conta é a experiência imediata
(o aqui e agora), os pirahãs, argumenta Everett, têm sua língua (e, portanto,
seu pensamento) limitados pela cultura – um caso único.
O trabalho caiu como uma bomba no
meio lingüístico. Se Everett estivesse certo, o idioma pirahã seria um sério
desafio à teoria da Gramática Universal. Desenvolvida pelo influente lingüista
americano Noam Chomsky, a teoria afirma que todos os seres humanos possuem uma
faculdade inata da linguagem, uma espécie de órgão da linguagem no cérebro.
Essa capacidade independeria do meio cultural, tendo sido impressa nos circuitos
cerebrais do Homo sapiens pela evolução. E a principal marca dessa faculdade é
justamente a recursividade.
Uma exceção a essa regra
significaria ou que os pirahãs não são humanos ou que o arcabouço intelectual
chomskiano – sob o qual se formaram gerações de lingüistas – está falido.
Everett, é claro, aposta na segunda hipótese.
Bombando
A tese de Everett sobre como a
chamada experiência imediata limita a competência lingüística dos pirahãs saiu
do domínio da academia na semana passada e se espalhou como rastilho de pólvora
na imprensa popular. Uma reportagem de 20 páginas intitulada «O Intérprete –
Será que uma tribo remota da Amazônia virou do avesso nossa compreensão da
linguagem?» foi publicada na prestigiosa revista americana The New Yorker e
citada por jornais on-line, revistas e blogs nos EUA e no Brasil.
No entanto, no final do mês
passado, antes de a New Yorker ir para a banca, um trio de lingüistas dos EUA e
do Brasil postou no site especializado LingBuzz um artigo contestando ponto a
ponto o trabalho de Everett. Andrew Nevins, da Universidade Harvard, David
Pesetsky, colega de Chomsky no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e
Cilene Rodrigues, da Unicamp, afirmam – com base em trabalhos anteriores do
próprio Everett – que o pirahã não apresenta desafio à Gramática Universal.»
N. B.: 1) quanto à catequização
dos índios, fico feliz que não tenha sido levada a cabo; cada povo tem sua
crença e acredito reprovável que instituições tanto católicas quanto
protestantes venham interferir na vida dos índios (que têm sua forma de vida,
cultura e língua protegidas pela Constituição brasileira); certamente o
«pesquisador» era vinculado ao SIL (Summer Institute of Linguistics), que ainda
reflete uma faceta ocidental de «levar a Civilização onde ela não está», quase
da mesma maneira que pensavam as potências que retalharam a África no último
quartel do século XIX, a velha prepotência de querer levar algo que, não se
sabe exatamente se faz falta ou não, ou esses povos não têm sua religião ou
crenças, e por que elas não seriam válidas ou tão críveis quanto o
Cristianismo? Tão tacanho e cansativo quanto as Testemunhas de Jeová que vêm à
nossa porta na manhã dos domingos;
2) quanto à Lingüística, fico
alegre que algo venha a quebrar a catequese e a doutrinação feita em algumas
instituições de ensino como na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, onde não se admite mais nada que não seja
gerativista, o que é fato engraçado numa instituição que se quer pluralista. Certamente
dirão que o pirahã nem mesmo língua é. Vejamos o suceder dos fatos.
domingo, março 04, 2012
Daniel Everett
na Veja
Recomendo a entrevista nas
páginas amarelas da VEJA com Daniel Everett, "A Linguagem nos Faz
Humanos". Ele afirma que Noam Chomsky tem tanto poder por causa de seu
proselitismo político (é comuna antiamericano até à alma), e não por sua teoria
sobre a linguagem (de que esta seria uma ferramenta inata).
Para Everett, a linguagem é uma
ferramenta criada pelos homens, com diferenças culturais importantes. É ela que
nos faz humanos, por nos dar o poder da comunicação e, acima de tudo, uma
história de identidade. Sabemos quem é nosso avô, ao contrário dos cachorros.
Seguem alguns
trechos:
"Acredito
que Chomsky só tenha conseguido esse poder que tem hoje de falar o que quiser,
mesmo mentiras, por sua atuação política, criticando os Estados Unidos. Graças
a esse proselitismo, ganhou uma leva de seguidores, e ergueu-se um muro de
defesa em torno dele. Recebo cartas desaforadas e emails violentos por
discordar dele. Mas não posso deixar de defender o que acho correto".
"Eu disse a ela que,
para mim, Jesus, se existiu mesmo, foi apenas uma pessoa boa, mas não o filho
de Deus. Eu me senti livre, dono daquela liberdade de alguém que consegue
superar suas crenças e se sente, então, honesto consigo mesmo".
E, por abordar
o tema, vejamos a seguir:
Há alguns anos universitários
publicaram este texto na internet e para entender, o por quê, basta ler:
“De arocdo com
uma pseuqsia de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas
de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas
etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê anida ler
sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa
cmoo um tdoo. Vdaerde!”
Entenderam?