Restinga_Zacarias_Maricá_RJ_Brasil

Restinga_Zacarias_Maricá_RJ_Brasil
Av Central e Av Litoranea

Páginas

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ALCINEA CAVALCANTE E O PODER DOS BLOGS

Alcinéa Cavalcante e o poder dos blogs

No último dia 20 de novembro, há quase um mês, o JW iniciou a sua segunda entrevista colaborativa, por onde o veículo dá aos leitores e usuários da lista de discussão do site a oportunidade de fazer perguntas para uma personalidade ligada ao campo do jornalismo online. A convidada da vez foi a jornalista e blogueira amapaense Alcinéa Cavalcante, que ganhou notoriedade na Internet por ser uma das principais articuladoras na Blogosfera da campanha "Xô Sarney", um movimento social criado no Amapá com a finalidade de impedir que o senador e ex-presidente do Brasil José Sarney tome posse de cargos políticos.

Divulgação Por causa de tal abraço de Alcinéa à campanha, Sarney moveu mais de 20 processos contra o blog da jornalista, que foi fechado. Mas, em setembro deste ano, ela voltou com um novo blog, criado fora do país e que recebeu apoio de muitos blogueiros brasileiros. A atitude de Alcinéa e o conteúdo postado foram alguns dos fatores que renderam a ela o "Prêmio Repórteres Sem Fronteiras" na votação popular do Best of the Blogs 2006 (BOBs 2006), concurso internacional lançado pela cadeia noticiosa alemã Deutsche Welle para eleger os melhores blogs no mundo todo em diversas categorias.

Em entrevista por email, Alcinéa falou, entre outras coisas, sobre o prêmio, a imprensa amapaense e a relação dos blogs com o jornalismo. Acompanhe abaixo:

Lucia Freitas, responsável no Brasil pelo atendimento de contas da agência de comunicação Active Duck - A perseguição e a censura ao blog foram ferozes, mas, no final, o maranhense [referindo-se a Sarney] ganhou. Por pouco, mas ganhou. Como você se sente? Quais os efeitos desta eleição no seu trabalho?

Alcinéa Cavalcante - Eu gosto de deixar claro que a minha luta é pela liberdade de expressão, é pela garantia do direito que os cidadãos têm de manifestar suas opiniões e pensamentos, por isso sempre estarei contra aqueles que tentam nos roubar esse direito. Desta vez foi com o Sarney, como poderia ter sido com outro qualquer.

A reeleição dele não muda nada no meu trabalho. Tenho independência e não abro mão disso. Lamento pelo Amapá, que continua com apenas dois senadores, já que Sarney não é daqui, não mora aqui e nestes 16 anos de mandato não fez praticamente nada pelo Estado. A reeleição de Sarney é fruto da desinformação. A imprensa amapaense é aliada dele e, por ser assim, esconde as informações que poderiam levar o povo a uma consciência crítica.

Charles Pilger, analista de sistemas - Partindo do princípio da teoria da conspiração, você acha provável que os processos movidos contra você e a sua irmã em função do "Xô Sarney" tenham sido ameaças processuais falsas, criadas pelo marqueteiro Antônio Melo?

Alcinéa Cavalcante - Foram mais de 20 processos que Sarney moveu contra meu blog. Perdi todos no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá que, mais do nunca, mostrou estar a serviço da reeleição de Sarney e não da lei e da justiça. Recorri para o TSE e estou aguardando as decisões.

Quanto ao marqueteiro Antônio Melo, através de email enviado a mim e a outros blogueiros e de uma entrevista a um jornal do Maranhão, ele desmentiu tudo que a revista Veja publicou. A Veja usou o lamentável expediente de colocar palavras na boca de alguém.

Tão logo a falsa entrevista foi publicada, vários blogueiros, inclusive eu, enviaram emails a revista, que nunca respondeu a nenhum. Isso, além do desrespeito aos leitores, deixa clara a posição da revista: o que ela não disser, coloca na boca de alguém e dane-se o resto.

Eu quase não leio a Veja. Na minha opinião ela é mais uma revista de desinformação do que um veículo de informação.

Eduardo Spohr, editor do portal Click 21 - Na sua opinião, qual seria a melhor forma de um blog ganhar espaço entre os grandes portais noticiosos?

Alcinéa Cavalcante - Ter audiência e credibilidade. Os portais já começaram a perceber a audiência dos blogs e procuram puxá-los para aumentar sua própria audiência. O primeiro exemplo, se não me falha a memória, é do portal do Estadão, que puxou o do Ricardo Noblat. Depois vieram outros.

Lucia Freitas, responsável no Brasil pelo atendimento de contas da agência de comunicação Active Duck - Você faz parte de uma rede bacana de blogs, que vai do Pensar Enlouquece ao Blog do Tas. Queria saber como esta rede se criou. Como você administra links e contatos com outros blogueiros?

Alcinéa Cavalcante - Nem sei como essa rede foi criada, mas fortaleceu-se com a campanha "Xô Sarney", que foi a luta da blogosfera pela liberdade de expressão.

Diariamente visito dezenas de blogs. Gostaria de linkar todos, mas às vezes me falta tempo, mas devagar vou linkando. Quando não estou na correria - vida de jornalista é sempre assim - deixo comentários nos blogs que visito. Com alguns blogueiros troco mensagens por email, Orkut ou MSN.

Divulgação Mario Lima Cavalcanti, editor do JW - Seu blog ganhou este ano o prêmio "Repórteres Sem Fronteiras" do BOBs 2006. Qual tem sido a repercussão de tal conquista?

Alcinéa Cavalcante - O prêmio é de todos os blogs que lutaram contra o coronelismo, contra a insana vontade de Sarney de trazer de volta o regime ditatorial, do qual ele foi uma das maiores expressões.

Enquanto muitas empresas de comunicação se conformam em viver de joelhos diante dos poderosos, aceitam caladas a censura que lhe é imposta pelos poderes político e econômico, os blogueiros brasileiros deram uma verdadeira lição de como se luta pelos direitos que são garantidos aos cidadãos na própria Constituição.

Veja bem, o UOL - que é tão poderoso, que é um dos maiores portais em língua portuguesa - se ajoelhou diante de Sarney. Logo na primeira ação movida pelo senador contra mim e minha irmã Alcilene Cavalcante, o UOL tirou nossos blogs do ar. Sarney queria nos calar e o UOL resolveu ajudá-lo. Para nos amordaçar um grande portal e um tribunal eleitoral uniram-se a um dos homens mais poderosos do país. Esse trio foi derrotado pelos blogueiros. O prêmio é a prova da força dos blogs contra o atraso, contra a censura, contra a ditadura e contra o medo.

Eduardo Spohr, editor do portal Click 21 - Tenho curiosidade em saber como está o meio do jornalismo digital no Amapá. Infelizmente, nós, do Sudeste, em geral ficamos muito focados no eixo Rio-São Paulo e pouco conhecemos dos outros estados.

Alcinéa Cavalcante - É fraco, como todas as formas de jornalismo no Amapá. Aqui os jornais, as emissoras de rádio e de televisão, os sítios (com raras exceções) pertencem a políticos ou são atrelados a eles e vivem de verbas públicas.

Além da verba repassada mensalmente às empresas, o governo do Estado paga "jabá" aos jornalistas. E paga religiosamente, todos os meses, como um salário. O caso, inclusive, está no Ministério Público. Isso transformou o jornalista em cabo eleitoral e os jornais em veículos de propaganda enganosa do governo e de políticos.

Claro que entre as dezenas de empresas de comunicação e as centenas de jornalistas existem alguns que não se vendem. Estes são vistos como inimigos ou adversários.

Mario Lima Cavalcanti, editor do JW - Como você enxerga os atuais cenários dos weblogs e da mídia participativa? Como você vê o impacto da publicação pessoal no jornalismo?

Alcinéa Cavalcante - Muitos blogs jornalísticos são a alternativa para quem quer a informação correta, tanto que muitos têm mais credibilidade que os veículos de comunicação tradicionais e são mais lidos. Nas ações de Sarney contra mim, ele sempre ressaltava que o meu blog era mais lido que os jornais e que por isso causava "um prejuízo maior" à imagem dele.

Grande parte dos blogs jornalísticos não está atrelada a grupos políticos e econômicos e, por isso, não precisam maquiar a informação. É também uma ferramenta que promove o debate, que chama o leitor para dar sua opinião sem medo, sem censura, sem amarras. Os blogs dão voz a quem antes não tinha voz e, como diz a Cora Rónai, com uma linha telefônica e um computador, qualquer cidadão pode gritar mais alto que os poderosos, pode levar a informação que os jornais escondem, pode mostrar com mais clareza as reivindicações da comunidade.

O avanço dos blogs vai forçar a repensarmos a forma de fazer jornal, vai obrigar a fazermos um jornalismo mais honesto neste país.

*Mario Lima Cavalcanti é editor do JW.

Participaram dessa entrevista colaborativa: Charles Pilger, Eduardo Spohr e Lucia Freitas.
Postado por mcavalcanti
Por Mario Lima Cavalcanti (*) et al.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não permitimos injúria, calúnia ou difamação nos comentários. A moderação será usada apenas nestes casos. Agradecemos a colaboração dos usuários.
O comentário não representa a opinião do blog, a responsabilidade é do autor da mensagem.